segunda-feira, 13 de março de 2006

O castelo e eu...

Medo...

A Caixa de Pandora foi aberta... Foi arrancado da segurança terrena e lançado ao vento. Sem base, perdeu-se. Procurou ajuda e encontrou refúgios. Mas viveu durante muito tempo como um balão preso a uma corda frágil e insegura... O rastilho de pólvora havia sido aceso e já não era mais possível detê-lo. Não sozinho.

Medo...

O sentimento tão conhecido e desconhecido nesta magnitude tomou conta de sua mente. Seus momentos foram povoados por... medo... nada além de medo... Não o medo protetor e que alerta de um perigo real e iminente. Mas um medo sem nome, um medo só sentido. Angústia? Não sei. Medo mesmo. Medo de não pertencer mais a si. De não ser mais quem se desejava ser. Não ser mais quem se sabia ser. Medo da dominação. Medo do desaparecimento estando aparecido. Medo de perder-se para sempre dentro do medo.

Com o tempo, a inteligência e a sagacidade e o único sentimento restante na caixa aberta começaram a trazê-lo de volta a terra. A segurança da mãe terra. O ar é perigoso e ventos traiçoeiros assolavam a região. E um balão desatado ao sabor do vento não escolhe direção, nem porto, nem nada. Apenas é. Apenas vaga. Apenas existe. Uma existência serena num ponto de vista objetivo e sem sentimento nem relação afetiva para com ele. Ou uma existência perturbadora onde o vagar sem direção passa a ser a angústia mais profunda sentida. Mas ainda persisto e classifico como medo...

Esperança...

Existe ainda a frágil esperança... O balão desce. Começa a esvaziar-se e recolhe-se para uma não tão próxima viagem. A esperança reside na diversidade. Multiplica-se. Rodeia-se de (falsa?) segurança. Mas no momento (quanto dura um momento?) lhe serve perfeitamente. E as escolhas não são muitas se é que se tem escolha(s). Constrói um castelo com blocos de madeira. Bloco a bloco protege-se do desconhecido ou do não tão conhecido. Um fosso rodeia todas as paredes e uma ponte elevadiça parece há tempos não usada. Dragões o protegem contra a invasão do desconhecido. O medo não pode jamais retornar... Deve ser mantido ao longe. Um emissário do antigo Egito também o protege. Outros objetos e crenças entram nessa ciranda que visa o equilíbrio. Surge um escudo para o mundo, permeável a poucas coisas, a poucas pessoas. Mas não totalmente intransponível... No centro do castelo medita, reza, ora, entoa mantras que controlam tudo ao seu redor e afastam o medo... Mas o medo se foi... Foi recolhido para um lugar não conhecido ou que não deseja-se conhecer.

A segurança paira no ar e amarra-se a terra.

Aproximo-me intrigado do castelo tão rodeado de símbolos, crenças, mitos, lendas... Fico fascinado. Atraído. Meus olhos brilham cada vez mais desejando conhecer um lugar diferente. Outras paragens. Tudo parece-me encantador... Tudo parece-me incrível. Apaixonei-me por uma ilusão, por uma fantasia. Maravilhosa fantasia. A ponte elevadiça desce surda para minha entrada. Atravesso o escudo protetor. Talvez por conhecer sua verdaderia essência e compartilhar dela numa outra amplitude, num outro plano. Os dragões me olham com aprovação. O emissário não presta muita confiança mas também não faz objeção. Entro. No centro o encontro envolvido somente por seus blocos de madeira imaginando o por vir. Trocamos olhares, por um instante compartilhamos sonhos, desejos, uma vida. Uma vida num instante (quanto dura um instante?).

Mas percebo que um bloco está um pouco fora do lugar. Tento ajudar a colocá-lo na posição que me parece correta. O castelo todo treme... Fico com medo... Medo não. Receio é mais apropriado. Angustio-me. Crio meu próprio escudo que me protege dentro de algo maior e insondável. Posso me proteger sozinho. Uma esfera de luz me rodeia enquanto vejo com outros olhos e avalio melhor o ambiente. Minha áura de proteção fere. Fere os olhos de dentro. Incomoda. Mas ainda assim é permitida minha presença. Vejo outro bloco desalinhado. O movo novamente ainda desavisado. O castelo volta a tremer. Os dragões alçam vôo buscando identificar o agressor. O emissário porém, torna-se meu amigo e compartilho com ele momentos de graça. Não entendo o que acontece. E a resposta que responde todos meus "por quês" é tristeza. Paraliza-se com a tristeza. O medo está longe. Mas a tristeza toma conta do presente, resgata o passado e destrói o futuro. Isso faz com que meu escudo protetor se intensifique ainda mais. A angústia alimenta minha proteção. Proteção de um lugar que não sei se quero mais estar.

Solta a minha mão e me oferece as costas. Não por displicência ou por falta de consideração. Apenas por não suportar o por vir. Por não perceber que existe beleza no por vir. Que existe um por vir. A crença num futuro desaparece. Já não posso acreditar sozinho. Vago em direção a saída. A ponte elevadiça desce surda novamente. Mas já não me encanto mais com isso. Não me fascino mais... Sinto um alívio por partir mas uma dor muito grande em deixar tudo para trás. Perdi. Perdi um futuro. Perdi o presente. Perdi momentos. E como não consigo mensurar esse espaço-tempo não sei a dimensão da perda. Melhor assim. Saio e parto em outra direção. Mas levo comigo a lembrança de algo importante e vivo dentro de mim. E isso me faz bem.

Agora o escudo começa a se recolher enquanto me afasto. Já não é tão necessário. Continuo caminhando. Caminho e caminho até encontrar outro ponto, outra paragem ou outro caminhante que possa me acompanhar durante um tempo e compartilharmos momentos, instantes, uma vida. Nem que seja uma vida num segundo.

Mas alguns blocos do castelo ainda continuam frágeis...
Aviso aos desavidados: Cuidado.

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