sábado, 3 de julho de 2010

Viver ou Sonhar?

Sempre quando conheço algum ser humano novo a mesma pergunta é realizada. Quase como um ritual. Antigamente logo de cara, de supetão. Hoje, inconscientemente, ela ficou para interações futuras. Talvez por eu ter deixado de ser invasivo como era quando voltei pra terra natal. Coisas da minha criação joinvilana onde a invasão de privacidade é meramente assuntosa e não possui maldade alguma.


As respostas têm sido decepcionantes e frustrantes. "Quais são seus sonhos?" eu indago. Ouço variantes da mesma resposta: "Já realizei todos eles. Tenho uma casa, um carro, um bom emprego e viajo sempre." Quando foi que as pessoas pararam de sonhar de verdade? O mundo não é feito somente de matéria. Concordo que ela nos ajuda e muito. É bom estar num lar confortável que nos agrade, poder ir e vir num carro que consideremos bacana, possuir um emprego minimamente interessante que nos proporcione tudo isso e poder viajar e conhecer outras paragens, respirar novos ares. Mas e os demais sonhos? Ninguém mais sonha com o amor? Não me lembro de alguém ter respondido que sonha encontrar uma outra pessoa pra dividir todas essas conquistas terrenas. Ou, os que já encontraram e vivenciaram essa experiência já se deram por satisfeitos.


Uma das últimas respostas que tive que ainda me impressionam era que encontrar alguém para compartilhar a vida não era um sonho, era um fato. Como se sonhar fosse feio, fosse sem sentido, sem significado. Afinal, o sonho é apenas um sonho! Melhor trabalhar em cima de fatos. Acho que posso mudar minha pergunta daqui pra frente. "Quais são seus fatos?". E o que aconteceu com a citação: "Um sonho que se sonha só é só um sonho. Um sonho que se sonha junto é realidade."? Gosto de transformar a realidade ao meu redor. Faz parte da minha profissão como arquiteto. Mas sempre, SEMPRE, sonho junto! Só assim o sonho se torna efetivamente realidade ou se preferir, só assim o sonho se torna um fato!


Nesse meio tempo, entre este último ocorrido que me faz pender para a misantropia e esta postagem que agora escrevo, minha  mente preparou vários argumentos através de citações, frases e músicas (uma acima já foi citada). Algumas de um passado bem distante. Essa que vem bem de longe era de um quadro de uma gaivota voando pelo céu numa imagem monocromática toda laranja que tínhamos em casa.


"Nunca large mão dos seus sonhos. Pois se eles morrem, a vida se torna como um pássaro de asa quebrada que não pode voar."


Sempre quis voar desde criança. E quando era menor sonhava muito que agitava meus braços e voava como um pássaro livre que regressava sempre pro conforto da minha casa, da minha família. O sonho evoluiu ao ponto de eu poder voar sem precisar bater os braços despenados. Hoje não sonho mais em voar. Hoje sei que alcei vôo sozinho e já realizei muitos dos meus sonhos. Mas continuo sonhando com uma revoada de coisas. E continuo sonhando com o amor. Em compartilhar meus sonhos com outro ser humano que se predisponha a isso e juntos possamos construirmos uma nova realidade.


Goethe escreveu também: "O que quer que possa fazer ou sonhe em fazer comece-o. Existe algo de genealidade, de poder e de magia na coragem.".


Sonhar é mágico! Outra palavra que anda perdida em nosso mundo. Magia. A magia do amor soa piegas demais pra você? Pra mim não. Comecei a dar passos novos em minha vida profissional. Comecei. E isto foi o suficiente pra magia se estabelecer. Hoje um mundo completamente novo e ao mesmo tempo bem conhecido se apresenta pra mim. Cheio de possibilidades, mais sonhos e por que não, magia.


Busquei refúgio deste mundo de pessoas factuais na música também. Belchior na voz de Elis me veio primeiro a mente. "Viver é melhor que sonhar!" Cante junto com ela abaixo (sei que você sabe a letra toda!).





Viver realmente é melhor que sonhar. Isso sim é um fato que aceito de bom grado. Mas ainda sonho como uma criança. E como as pessoas factuais me dizem: "Você é uma criança crescida". As vezes considero essa avaliação ruim mas as mesmas pessoas factuais dizem que não. Talvez por lembrarem que um dia já foram assim também. Mas que em algum momento de suas histórias a criança que sonhava se perdeu.


Revi esses dias o filme O Pequeno Príncipe (eu sei que é livro de Miss mas paciência...). E percebi o quanto algumas coisas nele são próximas do que sinto. Parei de confiar nos adultos que não sonham mais assim como o piloto perdido no deserto parou de confiar nos adultos que viam seu desenho apenas como um chapéu e não como uma jibóia digerindo um elefante. Minha visão não é mais inocente como quando eu era criança. Afinal já sou um adulto. Ou factualmente, sou uma criança crescida (qual a diferença?). Mas conservo ainda a capacidade de ver as pessoas com essa inocência deliciosa de toda criança perguntando: "Quais são seus sonhos?". Ainda continuo me relacionando com pessoas factuais repetindo o mesmo mantra: "O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o olhos do coração." Tento me enquadrar nos padrões da normalidade imposta pelo mundo apesar de saber que sou uma pessoa verde (né Lu?!). No fundo, bem lá no fundo, meu coração me diz que alguns seres humanos factuais são boas pessoas e que não posso renegar minha espécie completamente. Já disse que se encontrasse Pandora eu a esganaria? Só um pouquinho... Maldita esperança que alimenta nossos corações!


Enfim... Continuo sonhando.


Hoje, um pouco antes de me sentar aqui e compartilhar com você tudo isso, outra música, como uma resposta a todas minhas dúvidas, foi-me lançada pelo meu inconsciente. E é com ela que termino essa postagem.


But in your dreams
Whatever they be
Dream a little dream of me...


Nenhum comentário:

Postar um comentário